Como sinal da graça de Deus, o Revelador deste Mais Grandioso Anúncio, removemos das Sagradas Escrituras e Epístolas a lei que prescrevia a destruição de livros. (Tablets of Baha’u’llah, p. 25)
Há alguns anos, militantes do Estado Islâmico (ISIS) saquearam e queimaram a biblioteca central de Mossul, destruindo cerca de 100.000 livros, incluindo uma rara coleção de manuscritos da era otomana. A destruição prosseguiu atingindo bibliotecas de várias universidades da cidade do norte do Iraque.
Irina Bokova, Directora-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) reagiu chamando-lhe “um dos actos mais devastadores de destruição de coleçcões de bibliotecas na história da humanidade. Esta destruição”, disse ela, “marca uma nova fase na limpeza cultural perpetrada nas regiões controladas por extremistas armados no Iraque. A isto junta-se a destruição sistemática do património e a perseguição de minorias que pretende acabar com a diversidade cultural que é a alma do povo iraquiano.”
Na sua interpretação fanática do Islão, o ISIS acreditava que a queima de livros iria de alguma forma eliminar os pensamentos “não islâmicos” da sociedade. Este tipo de censura pelo fogo e de “limpeza cultural” tem uma longa história, não só entre os muçulmanos, mas também nas culturas cristã, judaica, hindu e em algumas culturas chinesas. A queima de livros foi utilizada pelas legiões romanas quando queimaram a Biblioteca de Alexandria; pelo imperador cristão Constantino na sua supressão de crenças não trinitárias; pelos conquistadores espanhóis no Iucatão Maia e Azteca; e pelos nazis antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Na Guerra de 1812, as tropas inglesas empilharam todos os 3.000 livros da Biblioteca do Congresso junto aos muros de pedra do Capitólio dos EUA para os queimar, com a intenção de humilhar e degradar os americanos rebeldes. A queima de livros também costuma acompanhar o genocídio — resultante da oposição cultural, religiosa ou política a uma etnia, raça ou civilização inteira — e tenta destruir a memória e a herança cultural de um povo.
Em muitas religiões antigas tolerava-se a queima de livros, mas os ensinamentos Bahá’ís proíbem-na completamente:
Nas religiões antigas, mandamentos como a guerra santa, a destruição de livros, a proibição de associação e a convivência com outros povos ou de leitura de certos livros foram estabelecidas e afirmadas de acordo com as exigências da época; no entanto, nesta poderosa Revelação, neste importante Proclamação, as múltiplas dádivas e favores de Deus ofuscaram todos os homens, e do horizonte da Vontade do Senhor Sempiterno, o Seu decreto infalível prescreveu aquilo que estabelecemos acima. (Idem, p.28)
Os descrentes e os infiéis fixaram o seu pensamento em quatro coisas: primeiro, o derramamento de sangue; segundo, a queima de livros; terceiro, evitar os seguidores de outras religiões; quarto, o extermínio de outras comunidades e grupos. Agora, porém, através da graça fortalecedora e da potência da Palavra de Deus, estas quatro barreiras foram demolidas, estas ordens claras foram obliteradas da Epístola, e mandamentos brutais foram convertidos em atributos espirituais. (Tablets of Bahá’u’lláh, p. 91)
Porque é que continuamos a ver queimas de livros? Os ensinamentos Bahá’ís dizem que isto deve-se à superstição e à ignorância:
A verdadeira religião é a fonte de amor e da concórdia entre os homens, a causa do desenvolvimento das qualidades louváveis; mas o povo agarra-se à simulação e à imitação, negligenciando a realidade que unifica; e assim, ficam despojados e privados do esplendor da religião. Seguem superstições herdadas dos seus pais e antepassados. Isto prevaleceu a tal ponto que eles fizeram desaparecer a luz celestial da verdade divina, e ficaram na escuridão das imitações e imaginações. Aquilo que deveria ser conducente à vida tornou-se a causa da morte; o que deveria ser uma evidência de conhecimento é agora uma prova de ignorância; aquilo que era um factor na sublimidade da natureza humana revelou-se ser a sua degradação. Por isso, o mundo do crente estreitou-se e escureceu gradualmente, e o campo do materialista ampliou-se e avançou; pois o crente agarrou-se à imitação e à simulação, negligenciando e descartando a santidade e a realidade sagrada da religião. ('Abdu'l-Bahá, Foundations of World Unity, p. 71)
Para os Bahá’ís, nenhuma religião legítima é estrangeira ou questionável, porque os ensinamentos Bahá’ís dizem que “a verdadeira religião é a fonte de amor e da concórdia…” De facto, os Bahá’ís acreditam que a destruição dos livros, especialmente das Escrituras Sagradas de qualquer sistema de crenças, destrói os próprios alicerces da civilização humana:
Pelo Senhor Deus - e não há Deus senão Ele! Até os mais ínfimos pormenores da vida civilizada derivam da graça dos Profetas de Deus. Que coisa de valor para a humanidade já surgiu e que não tenha sido primeiramente apresentada, directa ou implicitamente, nas Sagradas Escrituras? (‘Abdu’l-Bahá, The Secret of Divine Civilization, p. 96)
Todos os Livros Sagrados foram escritos para conduzir e encaminhar o homem nos caminhos do amor e da unidade… (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 107)
Numa perspectiva Bahá’í, destruir livros seria como destruir uma parte de nós próprios. Como todas as religiões provêm da mesma fonte, e como todas as Escrituras Sagradas são capítulos do mesmo livro, e como o progresso final da humanidade vem de um Deus, os Bahá’ís trabalham para unir um mundo dividido, e travar pacificamente a destruição deliberada de livros, povos e culturas.
-----------------------------
Texto original: Why the Baha’i Faith Prohibits Book-Burning (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA