sábado, 24 de março de 2018

Uma Aliança eterna com Deus

Por David Langness.


Em todas as religiões, Deus faz uma promessa à humanidade.

Quando, no Antigo Testamento, Deus fala a Moisés, essa promessa explícita tem a seguinte forma:
E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é minha a terra inteira. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel. (Êxodo, 19: 5-6)
Designada como Aliança Mosaica, Deus deu a Moisés os Dez Mandamentos e, por Seu lado, exigiu que as pessoas concordassem em adorar um único Criador e obedecessem àquelas leis morais. No Novo Testamento da Bíblia, surge um pacto semelhante entre Deus e a humanidade, a que os Cristãos chamam Nova Aliança:
Se, na verdade, a primeira fosse perfeita, não haveria lugar para a segunda. De facto, censurando-os, diz: Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova, não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto; porque eles não permaneceram na minha aliança, também Eu me desinteressei deles - diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois daqueles dias. Diz o Senhor: Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Ninguém ensinará o seu próximo nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor’; porque todos me conhecerão, do mais pequeno ao maior, pois perdoarei as suas iniquidades e não mais me lembrarei dos seus pecados. Ao falar de uma aliança nova, Deus declara antiquada a primeira; ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer. (Hebreus 8:7-13)
Podemos encontrar a visão Cristã elementar da Nova Aliança no Evangelho de João; Jesus Cristo inicia esse pacto na Última Ceia, dando um novo mandamento - "o décimo primeiro":
Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. (João 13:34-35)
No Islão, o conceito de aliança aparece novamente, distinguindo a fé da hipocrisia e pedindo aos fiéis que mantenham as suas promessas de cumprir os mandamentos de Deus:
Em verdade, Deus pede-vos que façam justiça e bem, e dêem aos familiares (o que é devido), e Ele proíbo-vos de pecar, fazer o mal e de oprimir; Ele adverte-vos para que possais estar atentos!

Obedecei à aliança de Deus com que vos comprometeste, e não quebreis os vossos juramentos depois de os afirmar, porque assim tereis a Deus como vossa garantia; em verdade, Deus sabe o que fazeis. (Alcorão 16:90-91)
Os ensinamentos Bahá’ís levam o conceito de aliança ainda mais longe, associando-a directamente ao alcançar de uma existência eterna:
Hoje, o poder vibrante nas artérias do corpo do mundo é o espírito da Aliança - o espírito que é a causa da vida. Quem for vivificado com este espírito, manifestará a frescura e a beleza da vida, estará baptizado com o Espírito Santo, nascerá de novo, estará libertado da opressão e da tirania, da negligência e da dureza que enfraquece o espírito, e alcançará vida eterna. Louvado seja Deus, pois estás firme na Aliança e no Testamento, e volves o teu rosto para o Luminar do mundo, Sua Alteza, Bahá’u’lláh. ('Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 6, pp. 263-264)
Os Bahá'ís acreditam que existe - e sempre existiu - apenas uma Aliança eterna. Todos os profetas de Deus renovam essa Aliança permanente de maneira diferente, mas todos se ligam numa corrente progressiva de revelações sucessivas. Para distinguir as diferentes versões dessa Aliança, designamo-las como aliança de Abraão, a aliança de Moisés, a nova aliança de Cristo ou a aliança de Maomé; mas, na realidade, Deus apresenta-nos a mesma aliança em cada nova dispensação religiosa. Ele promete nunca deixar a Sua criação sem a Sua sabedoria e orientação.

Conhecemos esta aliança permanente por muitos nomes. No Génesis, a história de Adão e Eva e o Jardim do Éden descreve a história da aliança, tal como a narrativa de Noé e o Dilúvio. A Arca de Noé representa a aliança, e a aliança de Noé com Deus - que inclui uma promessa de nunca mais destruir toda a vida na Terra - usa um arco-íris como símbolo desse acordo eterno. No Cristianismo, Jesus fez uma aliança com os Seus seguidores para se dirigirem para Pedro, "a rocha" base da Sua igreja. No Islão, a famosa narrativa de Fama-Gadeer ordena aos seguidores de Maomé para se dirigirem ao seu sucessor Ali. Na Fé Bahá'í, a aliança de Bahá’u’lláh - que promete uma revelação posterior, e nomeia ‘Abdu’l-Bahá como intérprete autorizado e exemplo dos Seus ensinamentos - pede a cada crente que se dirija fielmente a esse Centro da Aliança para orientação e inspiração.

Visto nesta perspectiva contínua e perpétua, os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que a nossa actual aliança com Deus representa a fonte inspiradora e espiritual de progresso e ordem no mundo:
A Aliança é um Orbe que brilha e resplandece para o universo. Em verdade, as suas luzes dissiparão a escuridão, o seu mar lançará a espuma da dúvida sobre as praias da perdição. Em verdade, nada no mundo pode resistir ao poder do Reino. Se toda a humanidade se unisse, poderia impedir que o sol desse a sua luz, que os ventos soprassem, que as nuvens dessem chuva, que as montanhas fossem firmes ou que as estrelas brilhassem? Não! Pelo Senhor, o Clemente. Tudo (no mundo) está sujeito à corrupção, mas a Aliança do teu Senhor continuará a permear todas as regiões. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, p. 170)

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Texto original: One Continuous Covenant with God (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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