sábado, 20 de janeiro de 2018

Os Budistas, os Bahá’ís e Deus

Por Tom Tai-Seale.


A maioria dos historiadores acredita ser muito provável que o Budismo tenha mudado dramaticamente desde que Sidarta Gautama fundou esta Religião há 2500 anos. Transmitida através de histórias orais pouco fidedignas e baseadas na compreensão dessas histórias, o Budismo moderno pode ter - ou não - alguma semelhança com o que o Buda originalmente ensinou.

No entanto, o que sabemos sobre os ensinamentos de Buda, revelado originalmente em sociedades profundamente iletradas, surgiu numa forma estrutural que facilita a memorização. Por exemplo, existem:
  • Um Dharma: ensinar.
  • Dois Caminhos Espirituais: um para leigos e outro para monges.
  • Três Cestos de Escrituras: um com regras para monges, um com discursos e um com comentários (o Abhidhamma).
  • Três Selos de Dharma: os ensinamentos sobre a impermanência, o não-eu e o nirvana.
  • Quatro Nobres Verdades: a vida está cheia de sofrimento, a causa do sofrimento é o apego, o sofrimento pode acabar, a maneira de o eliminar é o caminho do Buda.

O Budismo também possui cinco formações mentais e cinco recordações, seis tipos de consciência, sete factores de iluminação, um caminho óctuplo, doze ligações de origem dependente, dezoito reinos (dhatus) e muitas outras associações construídas com base em números. Estas simples mnemónicas levam-nos a acreditar que os princípios básicos dos ensinamentos de Buda foram preservados.

No entanto, a imensidão das escrituras Budista, as diferentes versões em diferentes idiomas, as diferentes interpretações e as práticas largamente diferentes geraram muitas formas diferentes de Budismo. As principais diferenças entre o Budismo Theraveda e Mahayana não são imediatamente visíveis nas várias divisões e escolas de pensamento existentes em cada uma destas correntes. Além disso, tanto o Budismo Theraveda como o Mahayana surgiram centenas de anos depois de Buda e continuaram a evoluir. Com tudo isto, é difícil caracterizar categoricamente as diferenças; podemos apenas dizer que corrente Theraveda é mais conservadora na medida em que aceita menos Escrituras, mas inclui todo o cânone em pali; por seu lado, a corrente Mahayana aceita mais algumas Escrituras, incluindo alguns sutras bem conhecidos, como o Sutra do Lótus, o Sutra do Coração, o Sutra do Diamante e o Sutra de Amitabha. Além disso, os Budistas Mahayana, em geral, também reverenciam mais Bodhisattvas (seres iluminados que assumem a tarefa de salvar a humanidade). Os países a Sul e a Leste da região onde Buda ensinou (no nordeste da Índia), tendem a ter mais Theraveda; os países do norte e do extremo oriente têm mais Budistas Mahayana. E é claro que muitos Budistas contemporâneos, independentemente da sua escola de pensamento, vêem agora a sua fé de forma muito diferente da que originalmente surgiu:

Relevo Budista Mahayana (sec. II ou III), Paquistão

O fundador do Budismo era uma alma maravilhosa. Ele estabeleceu a Unidade de Deus, mas depois os princípios originais das Suas doutrinas desapareceram gradualmente, e os costumes e as cerimónias ignorantes surgiram e aumentaram até que finalmente se transformaram no culto de estátuas e imagens. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, p. 165)

Para perceber alguns dos problemas da história e das escrituras Budistas, agora podemos examinar algumas questões que nos são colocadas, começando pela mais básica: o Budismo é teísta, ou seja, acredita em Deus? Para responder a esta pergunta, o ministério de Buda deve ser considerado na perspectiva histórica. Quando Buda apareceu, a religião Védica na Índia estava num período de declínio. A narrativa Budista diz que a casta privilegiada dos sacerdotes - os brâmanes - se tinha corrompido, pouco sabendo sobre o verdadeiro espírito da religião, o que os tornou incapazes de ensinar aos outros o caminho para Deus. Um discípulo do Buda, Vasettha, comentou esta situação; Buda respondeu:

Então dizes, também, Vasettha, que os brâmanes [sacerdotes] têm raiva e malícia nos seus corações, e são pecadores e descontrolados, enquanto Brahman [Deus] está livre de raiva e malícia, não tem pecado e tem autocontrole. Agora, pode haver consonância e semelhança entre os brâmanes e Brahman?

Note-se que o Buda fala sobre Deus (Brahman) e está interessado em reflectir correctamente a luz de Deus. Mas o Buda viveu num tempo em que as pessoas se afogavam num mar de diferentes doutrinas sobre Deus e os diferentes direitos dos sacerdotes como intermediários. Ele viu claramente que acrescentar a fraternidade intelectual e religiosa não ajudaria a salvar a humanidade dos seus sofrimentos. Em vez disso, a sua Religião maravilhosa e profundamente espiritual pede a seus seguidores e a todos nós que nos concentremos na nossa viagem espiritual interior.

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

1 comentário:

Cori Correa disse...

Além dessa questão do teísmo, existe a questão da crença na reincarnação.