sábado, 13 de maio de 2017

Em busca da Arca da Aliança

Por David Langness.


Provavelmente já viram o filme “Os Salteadores da Arca Perdida” (“Os Caçadores da Arca Perdida”, no Brasil), de Steven Spielberg, onde Indiana Jones vive aventuras emocionantes e cheias de acção, em busca da Arca da Aliança.

Nos “Salteadores”, a arca que Indiana Jones procura tem uma longa história de veneração e ocultação, e possui poderes notáveis devido às suas antigas origens religiosas. No filme, todos querem ficar com ela, e essa perseguição competitiva estimula a acção implacável do filme.


Spielberg não inventou a Arca da Aliança para desenvolver a sua história; ele pegou numa verdadeira lenda que tem raízes profundas em toda a história religiosa e cultural. A verdadeira Arca da Aliança aparece nas escrituras sagradas de diversas religiões, e define um rumo em todas as religiões abraâmicas. O Livro do Êxodo no Antigo Testamento descreve a Arca da Aliança como um cofre construído para guardar as duas tábuas da lei, as duas placas de pedra que continham os Dez Mandamentos revelados a Moisés:
E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele, no monte de Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus. (Êxodo 31:18)
Essas duas "placas" de pedra (referidas como “tábuas”) e o cofre de madeira banhada a ouro que as guardava desempenham papéis importantes no Antigo Testamento, no Novo Testamento e no Alcorão. No Livro do Êxodo, Deus ordena a Moisés que construa uma Arca para guardar a lei de Deus, e depois a Arca faz acontecer milagres poderosos, separando o Rio Jordão e ajudando a derrubar os muros de Jericó. A descrição detalhada no Êxodo diz-nos exactamente como é a Arca da Aliança – as suas medidas exactas, o seu revestimento de ouro, os seus dois querubins que adornam um kapporet ou uma capa de ouro, a que os cristãos chamam Propiciatório. Guardado no Santo dos Santos, o santuário interior do antigo Templo de Jerusalém, a Arca serviu como a representação física da lei de Deus e do pacto divino entre o Criador e a Sua criação.

Há milhares de anos que historiadores e teólogos debatem a realidade física da Arca da Aliança, e existem centenas de livros sobre o assunto. Moisés gravou - verdadeiramente - as duas placas de pedra com os Dez Mandamentos enquanto as recebia de Deus, e depois guardou-as numa verdadeira caixa de ouro?

Muitas seitas e denominações religiosas assumem esta história bíblica como literalmente verdadeira. Essa interpretação literal produziu dúzias de alegações e teorias sobre o paradeiro actual da Arca perdida, incluindo o Monte Nebo, perto do Rio Jordão, o túmulo do rei Tut no Egipto, numa caverna nas montanhas Dumghe, na África Austral, sob o Monte do Templo, em Jerusalém, escondido na catedral de Chartres, em França, enterrada numa colina na Irlanda ou disfarçada perto da Igreja Cristã Abissínia de Nossa Senhora do Monte Sião em Axum, na Etiópia. (Ninguém parece ter encontrado a Arca, excepto Indiana Jones.)

Outros vêem a Arca da Aliança apenas como um símbolo poderoso, representando a presença de Deus e a promessa aos hebreus. Mas porque as histórias bíblicas dizem que os seguidores de Moisés transportaram a Arca durante os quarenta anos em que andaram pelo deserto, depois de se libertarem da escravidão, ela acabou por representar o "receptáculo" da promessa de Deus, a Sua aliança sagrada mutuamente vinculativa com os Filhos de Israel. Esse pacto primordial declara essencialmente que Deus continuará a guiar os Seus filhos, desde que estes sigam os Seus mandamentos e "não tenham outros deuses além de Mim".

Mas, independentemente da sua existência real ou alegórica, a Arca da Aliança representa um acordo amplo e eterno em todos os ensinamentos religiosos - a continuidade eterna da orientação de Deus para a humanidade:
... é um princípio básico da Lei de Deus que, em cada Missão Profética, Ele estabeleça uma Aliança com todos os crentes - uma Aliança que perdura até ao fim dessa Missão, até ao dia prometido quando a Personagem estipulada no início do Missão se manifesta. Considere-se Moisés, Aquele que conversou com Deus. Na verdade, no Monte Sinai, Moisés estabeleceu uma Aliança relativa ao Messias, com todas aquelas almas que viveriam no dia do Messias. E essas almas, apesar de terem surgido muitos séculos depois de Moisés, estavam, no entanto, - no que diz respeito à Aliança, que é intemporal - ali presentes com Moisés. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of ’Abdu’l-Bahá, nº 181)
Este princípio místico - que todo ser humano tem a oportunidade de participar numa aliança com Deus - existe também nos ensinamentos Bahá’ís. Na verdade, os Bahá’ís acreditam em dois tipos de alianças religiosas:
Existe... a Aliança Maior que cada Manifestante de Deus faz com os Seus seguidores, prometendo que na plenitude dos tempos um novo Manifestante será enviado, e obtendo deles o compromisso de O aceitar quando isto ocorrer. Há também a Aliança Menor que um Manifestante de Deus faz com os Seus seguidores para que eles aceitem o Seu sucessor depois d’Ele. Se assim fizerem, a Fé poderá permanecer unida e pura. Caso contrário, a Fé divide-se e a sua força gasta-se. (A Casa Universal da Justiça, Messages 1963 to 1986, p. 737)
Então, como podemos encontrar a Arca da Aliança? Os ensinamentos Bahá'ís dizem que cada um dos profetas, mensageiros e manifestantes de Deus trazem essa aliança com eles, para garantir aos seus seguidores e aos seus descendentes que Deus não os abandonará desprovidos de orientação agora e no futuro:
O Senhor do universo jamais levantou um profeta, nem fez descer um Livro, sem que tivesse estabelecido a Sua aliança com todos os homens, apelando à sua aceitação da Revelação seguinte e do Livro seguinte, na medida em que as efusões da Sua generosidade são incessantes e sem limites. (O Bab, Selections from the Writings of the Bab, p. 87)
Esta garantia, renovada em cada revelação, dá-nos uma sequência contínua de alianças espirituais ao longo da história. Todas as alianças proféticas do Antigo Testamento de Noé, Abraão, Moisés, Arão e David, prometem uma orientação e bênçãos divinas duradouras em troca da fidelidade do povo. Também prometem a vinda do Messias, e o Reino de Deus na Terra.

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Texto original: Finding the Ark of the Covenant (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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