sábado, 29 de abril de 2017

O Culto no Altar do Nacionalismo

Por David Langness.


Sou uma patriota universal... o meu país é o mundo – Charlotte Bronté
Sabe qual a diferença entre nacionalismo e patriotismo? O jornalista e autor americano Sydney J. Harris descreveu essa diferença:
A diferença entre patriotismo e nacionalismo é que o patriota tem orgulho do seu país por aquilo que faz e o nacionalista tem orgulho pelo seu país independentemente daquilo que faz; a primeira atitude cria uma sensação de responsabilidade, mas a segunda cria um sentido de arrogância cega que leva à guerra.
O nacionalismo exagerado e tacanho, como todos nós testemunhámos durante o século passado, já esteve muito perto de destruir o mundo tal como o conhecemos. O fervor nacionalista raivoso levou à corrida aos armamentos que iniciou a Primeira Guerra Mundial, e resultou no assassinato sem sentido de milhões de pessoas. Depois, as questões não resolvidas da Primeira Guerra Mundial e o nacionalismo flagrante da Alemanha nazi e do Japão imperialista provocaram a Segunda Guerra Mundial. Tornando-se os pontos mais baixos da história humana - com quase cem milhões mortos -, essas duas guerras provaram ao mundo que o nacionalismo já não podia responder às nossas necessidades na era internacional.

Do ponto de vista Bahá’í, o nacionalismo tornou-se um dos três ídolos que os humanos construíram e depois adoraram, para nosso grande mal e vergonha. O nacionalismo - porque procura exaltar uma nação acima de todas as outras - só pode levar à morte e à destruição. Os outros dois ídolos que construímos - o racismo e o comunismo - procuraram exaltar uma raça dominante ou uma classe dominante acima das outras. O Guardião da Fé Bahá'í, Shoghi Effendi, destinou a sua crítica mais severa para aqueles que reverenciam e promovem o nacionalismo, o racismo e o comunismo:
O próprio Deus foi, de facto, destronado dos corações dos homens, e um mundo idólatra saúda e adora apaixonada e clamorosamente os falsos deuses que as suas próprias fantasias fúteis criaram fatuamente e as suas mãos mal guiadas tão impiamente exaltaram. Os principais ídolos no templo profanado da humanidade não são senão os triplos deuses do nacionalismo, do racismo e do comunismo, em cujos altares governos e povos, sejam democráticos ou totalitários, estejam em paz ou em guerra, sejam do Oriente ou do Ocidente, cristãos ou islâmicos, estão, de várias formas e em diferentes graus, agora a adorar. Os seus sumo-sacerdotes são os políticos e os doutores mundanos, os chamados sábios da época; o seu sacrifício, a carne e o sangue das multidões massacradas; os seus encantamentos, pregões antiquados e fórmulas insidiosas e irreverentes; o seu incenso, o fumo da angústia que emana dos corações dilacerados dos despojados, dos estropiados e dos desabrigados. As teorias e as políticas, tão doentias, tão perniciosas, que deificam o Estado e exaltam a nação acima da humanidade, que procuram subordinar as raças irmãs do mundo a uma única raça, que discriminam o preto e o branco e que toleram o domínio de uma classe privilegiada sobre todas as outras - essas são as doutrinas obscuras, falsas e tortuosas, pelas quais qualquer homem ou pessoa que acredite nelas ou que aja de acordo com elas, mais cedo ou mais tarde, sujeitar-se-á à ira e ao castigo de Deus. (The Promised Day is Come, pag. 113-114)
Então, como é que os ensinamentos Bahá'ís sugerem que se combatam estes três ídolos sombrios e destrutivos?

Primeiro, Bahá'u'lláh ensinou, podemos trabalhar humildemente para desenvolver uma nova consciência como cidadãos globais, como membros de uma família humana, recusando-nos a exaltar a nós próprios acima de qualquer outra pessoa:
... eliminem as diferenças e apaguem a chama do ódio e da inimizade, para que toda a terra possa vir a ser vista como um único país. (Bahá'u'lláh, Epistle to the Son of the Wolf, p. 122)

... habitamos num único globo terrestre. Na realidade somos uma família e cada um de nós é um membro desta família. ('Abdu'l-Bahá, Foundations of World Unity, p. 41) 
Todos podem viver em qualquer lugar no globo terrestre. Portanto, mundo inteiro é o lugar de nascimento do homem... Toda a área limitada a que chamamos o nosso país natal, consideramos a nossa pátria; mas o globo terrestre é a pátria de todos e não é uma qualquer área restrita. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, p. 300)

Então, ao envolvermo-nos no processo de destruição dos falsos ídolos do nacionalismo, do racismo e do comunismo nos nossos corações e na nossa consciência humana colectiva, podemos começar a antecipar e a trabalhar para alcançar a unidade orgânica da humanidade, da religião e do mundo:
Uma comunidade mundial na qual todas as barreiras económicas terão sido permanentemente demolidas e a interdependência do Capital e do Trabalho definitivamente reconhecida; em que o clamor da luta e do fanatismo religioso terá sido silenciado para sempre; em que a chama da animosidade racial terá sido finalmente extinta; em que um único código de direito internacional - o produto da opinião ponderada dos representantes federados do mundo - terá como a sua pena a intervenção instantânea e coerciva das forças combinadas das unidades federadas; e, finalmente, uma comunidade mundial onde a fúria de um nacionalismo caprichoso e militante terá sido transformada numa consciência permanente de cidadania mundial – aparenta ser, de facto, num esboço mais amplo, a Ordem antecipada por Bahá'u'lláh, uma Ordem que virá a ser considerada como o fruto mais apreciado de uma era de amadurecimento lento. (Shoghi Effendi, The World Order of Bahá'u'lláh, p. 40)

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Texto original: Worshipping at the Altar of Nationalism (www.bahaiteachings.org

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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