sábado, 2 de abril de 2016

Ciência, Clero e Cegueira Espiritual

Por Russell Ballew.


... os sacerdotes do seu dia impediram as pessoas de alcançar o caminho da verdade. Disto dão testemunho os registos de todas as escrituras e livros celestiais. (Bahá'u'lláh, The Book of Certitude,¶177)
Nicolau Copérnico criou um conceito muito radical; uma ideia que ameaçava a ordem estabelecida e até sua própria vida.

Na verdade, ele tinha tanto medo que o mundo não estivesse pronto para sua hipótese científica revolucionária que adiou a publicação da sua tese até que estar no seu leito de morte, em 24 de Maio de 1543. A sua teoria de que a Terra girava em torno do Sol desafiou a sabedoria convencional e a tradição religiosa. O mundo teve que esperar mais 67 anos até que outra alma corajosa - Galileo Galilei, usando um telescópio rudimentar em 1610 – pudesse testar a hipótese de Copérnico. Galileu demonstrou uma das implicações levantadas pelos detractores de Copérnico que argumentavam: "Se as suas doutrinas fossem verdade, Vénus teria fases como a Lua."

Quando Galileu desenvolveu um telescópio, conseguiu a admiração dos líderes políticos e militares de Veneza. A sua invenção permitiu ver navios de guerra no horizonte muito antes da sua chegada - uma inovação tão valiosa que lhe valeu uma pensão vitalícia.

Depois, Galileu voltou a sua atenção para a importância dos céus. Ao longo de vários de meses, no final de 1610, observou Vénus passar por um conjunto completo de fases. Concluiu que, se Vénus girasse em torno da Terra nunca seria possível vê-lo completamente iluminado, a partir da Terra. Isso só seria possível se Vénus era uma estrela gerando a sua própria luz.

Galileu concluiu que a sua observação apoiava a hipótese de Copérnico de que a Terra gira em redor do Sol.

No entanto, isso não estava de acordo com a tradição da Igreja. Alguns dos seus contemporâneos, incluindo astrónomos, professores e clérigos apresentaram queixas contra Galileu, o que levou a Igreja Católica a condenar sua conclusão como "falsa" e "totalmente contrária à Sagrada Escritura". Depois de publicar Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo em 1632, para reconciliar as observações da ciência e as interpretações da Bíblia, Galileu foi julgado pela Inquisição. Foi considerado "fortemente suspeito de heresia", as suas publicações foram proibidas, e ficou em prisão domiciliária durante os nove anos seguintes da sua vida.

Mais de 380 anos depois, a teoria de Copérnico e a demonstração de Galileu prevaleceram. Então, porque é que a igreja se opôs tão inflexivelmente a Galileu e à sua ciência? No fundo, ele era um católico devoto, cujas inovações já tinham feito muito para melhorar a sua nação e o mundo.

A resposta é simples: a sua tese revolucionária desafiou não só a forma como vemos os céus da Terra, mas também como exploramos o reino dos céus na terra. A sua descoberta desfez aquilo que compreendíamos sobre a criação de Deus, e a forma como entendíamos os mandamentos de Deus.

As ideias de Galileu desafiaram as fundações da autoridade religiosa, ao permitir que as pessoas descubram as suas próprias interpretações da realidade, e por extensão o significado e aplicação da Palavra de Deus. Neste aspecto, a hipótese de Copérnico foi considerada errada não por ser uma tese radical avançado, mas porque as autoridades clericais acreditavam só a Igreja tinha o direito de interpretar a vontade de Deus e, por extensão, o funcionamento das Suas maravilhas no universo.

Um dos sinais da maturidade é a capacidade para apreciar como a própria estrutura de referência tem impacto na observação e na interacção com a realidade. Essa constatação, apoiada pelas experiências de Werner Heisenberg (físico teórico e vencedor do Prémio Nobel), ajuda-nos a perceber o impacto da perspectiva de observação.

O Princípio de Incerteza de Heisenberg afirma que toda a matéria tem tanto estado (estático) e propriedades de onda (dinâmicas) e a tentativa de medir um compromete o outro. Por outras palavras, a forma como se avalia qualquer fenómeno afecta, de facto, aquilo que se observa, pois em última análise, determina aquilo que se vê. Os ensinamentos Bahá'ís sugerem o mesmo princípio, muito antes de Heisenberg:
A retina da visão exterior, embora sensível e delicada, pode, no entanto, ser um obstáculo à visão interior que é a única que pode perceber. As dádivas de Deus que se manifestam em toda a vida dos fenómenos, são por vezes ocultadas pelos véus da visão mortal e mental que tornam o homem espiritualmente cego e incapaz, mas quando essas camadas forem removidas e os véus despedaçados, então os grandes sinais de Deus tornar-se-ão visíveis e ele testemunhará a luz eterna enchendo o mundo. As dádivas de Deus estão total e continuamente manifestas. As promessas do céu estão sempre presentes. Os favores de Deus abrangem tudo, mas se a visão consciente da alma do homem permanecer velada e obscurecida, ele será levado a negar esses sinais universais e permanecerá privado dessas manifestações de bondade divina. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 90)
Ao longo dos próximos artigos, vamos analisar o trabalho pioneiro de três estudiosos milenaristas cristãos distintos, cuja investigação da Bíblia os levou a concluir que o regresso de Cristo ocorreria por volta de 1840. Vamos analisar o seu quadro de referência, o seu processo e as suas conclusões à luz do raciocínio científico. O nosso objectivo é a criação de uma estrutura sólida de referência que nos permita avaliar a relação entre a revelação de Jesus Cristo e que o advento de Bahá'u'lláh

----------------------------- 
Texto original: Science, the Clergy and Spiritual Blindness (www.bahaiteachings.org)

Sem comentários: