sexta-feira, 1 de maio de 2015

Os Bahá’ís e a Teologia do Logos

Por Tom Tai-Seale.



Cristo é Deus?

Para entender como se desenvolveu a noção de um Deus encarnado, temos que começar com a teologia Logos. A ideia e o significado da Palavra de Deus (Logos) pode ter tido a sua origem na literatura judaica sapiencial (por exemplo, em Provérbios 8) ou no pensamento platónico; no Cristianismo, surge pela primeiramente nas cartas de Paulo. Por volta de 56 EC. Paulo escreveu que Jesus:
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; (Filipenses 2: 6-9)
Esta tradução de João Almeida Ferreira não só dá uma forma a Deus, como também faz Jesus igual a ele: Jesus está na "forma de Deus". A tradução dos Capuchinhos é mais interessante: "... Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus".

Não é a forma de Deus - um aspecto físico - mas é a sua natureza metafísica e espiritual que Ele conferiu a Jesus. Paulo, portanto, não estava a falar da encarnação física. Paulo retoma esta linha de raciocínio numa carta escrita entre 61-63 EC dizendo sobre o Filho (Jesus):
Deus, o Geómetra
É Ele a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura;
porque foi nele que todas as coisas foram criadas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, os Tronos e as Dominações, os Poderes e as Autoridades, todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele.
Ele é anterior a todas as coisas e todas elas subsistem nele.
É Ele a cabeça do Corpo, que é a Igreja. É Ele o princípio, o primogénito de entre os mortos, para ser Ele o primeiro em tudo;
porque foi nele que aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude (Colossenses 1: 15-19)
Aqui, vemos claramente que, para Paulo, Jesus não é Deus, mas que foi criado à imagem - ou à semelhança - de Deus. As imagens não são a mesma coisa que o original, embora possam refletir a intenção do original. Além disso, apesar do Cristo (ou o Filho, em algumas traduções) anteriormente descrito existir antes de Jesus aparecer na história, este Cristo pré-existente é aqui descrito como um ser criado, gerado por Deus. Assim, é feita uma distinção dupla entre Deus e a Sua criatura semelhante. Não está implícita a encarnação de Deus.

Noutros textos Paulo reafirma a noção de pré-existência ao falar de Jesus como sendo "enviado" à terra. Por exemplo, em Romanos 8:3 diz: "Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o seu próprio Filho, em carne semelhante à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne". Aqui, novamente, Deus não foi enviado na carne; pelo contrário, o seu Filho (Logos) é que foi enviado à "semelhança" da carne. Jesus era carne, com certeza, mas o Deus dentro de si não era uma encarnação física. Pelo contrário, a realidade espiritual de Jesus, a Realidade Divina, só tinha uma semelhança (associação) com a carne de Jesus.

Um pouco depois destas epístolas terem sido escritas, o primeiro evangelho, o evangelho de Marcos, foi escrito por volta de 70 EC. Este evangelho enfatiza a diferença entre Deus e do Filho. Jesus é caracterizado como o enigmático Filho do homem, e não o Filho transcendente de Deus. Os títulos messiânicos são sempre atribuídos a Jesus; não são proclamados por Ele; e a questão do significado destes títulos nunca é abordada.

A perspectiva Bahá’í sobre a condição de Cristo honra os ensinamentos originais de Cristo, e rejeita o dogma que os intérpretes e clérigos desenvolveram posteriormente:
É um facto estabelecido que os seguidores de todas as religiões acreditam numa realidade cujos benefícios são universais; e que a realidade é um meio de comunicação entre Deus e o homem. Os judeus chamam Moisés a essa realidade; os cristãos chamam-lhe Cristo; os muçulmanos chamam-lhe Maomé; os budistas chamam-lhe Buda; e os zoroastrianos chamam-lhe Zoroastro. Agora note-se bem que nenhum desses religiosos alguma vez viu os fundadores; apenas ouviram o seu nome. Se eles tivessem dado menos importância aos nomes teriam percebido simultaneamente que todos acreditam numa realidade perfeita, que é intermediária entre o Todo-Poderoso e as criaturas... A religião deve ser o instrumento de bom companheirismo e do amor. Deve levantar o estandarte da harmonia e da solidariedade...

Sua Santidade, o Cristo sacrificou a sua vida, não para que as pessoas pudessem acreditar na doutrina de que ele é a palavra de Deus; não, pelo contrário, ele desejava conceder a consciência da existência contínua. É por isso que ele disse: "Jesus, o filho do homem, veio para dar a vida ao mundo". O seu objectivo foi totalmente eliminado e a doutrina do Pai, Filho e Espírito Santo foi fabricada... Quando nos seguramos firmemente às bases da religião, as diferenças desaparecerão. ('Abdu'l-Baha, Divine Philosophy, pp 155-157)

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Texto Original: How Baha’is Understand Logos Theology (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A & M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

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