sábado, 28 de março de 2015

Provas da Existência de Deus

Por Gregory Samsa e Jerry Schoendorf.



Talvez o erro mais comum que os cientistas têm sobre a religião é pensar que ela requer uma crença na existência física de Deus. O cientista ouve, ou acredita que ouve, algo parecido com o seguinte de uma pessoa de fé: "a criação está incompleta sem Deus. Deus é logicamente necessário para a existência do mundo, para o milagre da vida para ter ocorrido, e devido a fenómenos religiosos que acontecem. Em última análise, a autoridade religiosa deriva da obediência a um Deus todo-poderoso. Qualquer discussão sobre a religião acaba por ser uma discussão a respeito de Deus".

Esta crença incorrecta, apoiada por várias "provas" da existência de Deus apresentadas desde a Idade Média até aos dias actuais, tem dificultado o diálogo. Exemplos dessas "provas" incluem:

"Toda acção tem uma causa, portanto, Deus deve ser a primeira causa",

"O universo é maravilhoso demais para não ter um criador",

"O universo foi literalmente criado conforme descrito em Génesis", e assim por diante.

Muitos cientistas têm examinado o significado material de cada uma dessas chamadas “provas”, de acordo com os padrões da ciência, e encontram-lhes falhas. E consequentemente, seguindo a regra do elo mais fraco, rejeitam a religião. Essa tendência vai aumentar no futuro, à medida que a ciência avança para explorar os primeiros milésimos de segundo do Universo; a clonagem, que nos aproxima da criação da vida; a consciência humana, entendida como uma série de reacções bioquímicas no cérebro; as experiências quase-religiosas estimuladas electronicamente; a utilização de modelos de computador que explicam a vantagem evolutiva da compaixão, do altruísmo, de outras características proto-religiosas, e assim por diante.

O que provoca essa situação desagradável para as pessoas de fé? Como é que elas respondem à "desmitologização" da crença e da prática religiosa do passado? E mais importante: os aspectos supersticiosos de muitos dos nossos pressupostos sobre religião estão a ser eliminados. Qual deve ser a nossa resposta?

Primeiro de tudo, e mais importante que tudo: não sabemos nada sobre Deus - absolutamente nada. Nunca seremos capazes provar, através de meios lógicos ou materiais, exigidos pela ciência, que Deus existe. Como poderíamos fazer isso? Como poderia um Criador Todo-Poderoso ser algo sobre o qual nós tivéssemos capacidade suficiente para o entender ou descrever? Aqui não existe matéria que seja objecto de teste ou de hipótese científica. Nunca poderemos ver Deus, ouvir Deus, sentir Deus ou tocar em Deus de uma forma que um cientista aceite.

 Os ensinamentos Bahá'ís dizem:
Para todo o coração perspicaz e iluminado, é evidente que Deus, a Essência Incognoscível, o Ser Divino, está imensamente elevado acima todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, subida e descida, saída e regresso. Está longe da Sua glória que a língua humana consiga celebrar adequadamente o Seu louvor, ou que o coração humano compreenda o Seu mistério insondável. Ele está, e sempre tem estado, velado na eternidade antiga da Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade oculto para sempre da vista dos homens. (Selecção dos Escritos de Bahá'u'lláh, sec. XIX).
Também a filosofia, usando argumentos lógicos, não consegue provar que Deus existe. Dizer que algo existe, é contê-lo e defini-lo. Um Deus cuja existência pode ser demonstrada logicamente não é essencialmente diferente de um Deus que possa ser visto, e tudo o que Deus "é" (ou não é) deve, por definição, ser muito mais poderoso do que isso.

Assim, parece que estamos a perder todas as bases lógicas de um diálogo com um cientista sobre Deus e espiritualidade. Se a religião recebe a sua autoridade de Deus, e não conseguimos provar ou demonstrar de forma científica a existência de Deus, qual a base razoável para um cientista aceitar, ou considerar, a religião?

Os ensinamentos Bahá'ís indicam que mentes racionais e científicas admitem que o conceito de infinito, incompreensível e incognoscível é provável ou demonstrável. Consideremos o seguinte: as ciências, a matemática e a física utilizam o conceito de infinito. Os cientistas apresentam o infinito como um conceito abstracto, mas muito útil, prontamente aceite e até mesmo necessário para a sua compreensão básica das suas disciplinas.

Assim, da mesma forma que pensamos na ideia de infinito, poderia ser útil cientificamente sugerir que as questões em torno do conceito de Deus são hipóteses não-testáveis. Ou seja, no fundo, estão fora do âmbito e da demonstrabilidade da ciência. (Nota: uma hipótese não-testável não significa apenas que a hipótese não pode ser provada, mas também que não pode ser refutada Jamais um cientista desmentiu a existência de Deus.) Esta clarificação deve permitir duas coisas: Primeiro: desliga o interruptor "dúvida e refutar" dentro da cabeça do cientista. Segundo: liga igualmente um interruptor da “curiosidade” na cabeça do cientista.

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Texto original: Proof of the Existence of God (bahaiteachings.org)

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Gregory Samsa é director de estudos de pós-Graduação no Departamento de Bioestatística e Bioinformática na Universidade de Duke (EUA), e entre os seus interesses intelectuais está a desconstrução da prática estatística em componentes que podem ser estudadas cientificamente. Um pai de 5 filhos e treinador de futebol em escolas de ensino secundário.

Jerry Schoendorf é um ilustrador médico reformado e anaplastologista que trabalhou na Universidade de Duke e mais tarde num consultório particular em Durham (Carolina do Norte, EUA). Vive em Chapel Hill, Carolina do Norte, onde se dedica à ilustração, apicultura, e olaria.

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