domingo, 4 de maio de 2014

Sub-Humanos


No decorrer da Segunda Guerra Mundial, quando os nazis começaram a perder grandes batalhas na Europa, Hitler e Himmler aumentaram os seus esforços para exterminar os povos que designavam como "Untermensch" (sub-humanos).

Além dos campos de concentração e de trabalhos forçados, aceleraram as actividades nos "Todeslager" - os campos de extermínio - cuja missão era o extermínio global e industrial de todos aqueles que o regime nazi considerava sub-humanos.

Crianças a caminho do campo de extermínio de Chelmno
Estes campos de genocídio não têm igual em matéria de horror. Alguns historiadores estimam que cerca de seis milhões de pessoas foram mortas nos campos de extermínio. Mas outras estimativas de elevam os números para 15 a 20 milhões de mortos no total. Ninguém sabe o número exacto.

Os seres humanos têm dificuldade em compreender números como estes, ou mesmo como começou tamanha selvajaria. Posteriormente, todos os artistas, escritores, académicos, historiadores, cineastas e cronistas do Holocausto (ou Shoah, como é referido por muitas pessoas) ao enfrentar a imensidão de um mal tão incompreensível e desumano, questionaram-se se seria possível descrevê-lo ainda que de forma vaga.

Uma história da jornalista e escritora húngara Renée Szanto-Felbermann no seu livro de memórias Rebirth, apresenta a dimensão humana dessa tragédia monstruosa, revelado a odisseia de dois amigos improváveis:
O primeiro novo Bahá'í que nos encontrou após o fim da guerra foi um jovem estudante de medicina ...

Durante a guerra, quando tinha dezoito anos, teve que trabalhar num batalhão de trabalhos forçados devido à sua origem judaica, e foi deportado para Weimar Neustadt, na Áustria... Ali encontrou um Bahá’í da Polónia, um homem de grande cultura, que lhe falou de Bahá'u'lláh e da Fé Bahá'í e lhe deu a força moral para suportar os terríveis sofrimentos a que todos eram submetidos. No fim, já não tinham nada para comer. Estavam a deixá-los morrer à fome e tinham sido seleccionados para serem levados para as câmaras de gás em Auschwitz. O rapaz estava tão fraco que pensou que ia morrer. O Baha'i polaco ainda tinha uma cenoura que tinha arrancado num campo e guardava-a como uma última reserva. Ofereceu a cenoura ao seu jovem amigo, dizendo: "Eu sou muito mais velho que tu e já vivi a minha vida; a tua ainda está à tua frente. Toma esta cenoura, talvez salve a tua vida e te lembres de Bahá'u'lláh." A cenoura permitiu ao jovem ter forças para prosseguir e procurar água. De repente ele viu-se frente a frente com um conhecido húngaro de ascendência alemã, agora soldado envergando um uniforme alemão. "O que estás a fazer aqui?", perguntou-lhe surpreendido. Depois de ouvir a sua história, disse-lhe: "Vem depressa… posso salvar-te. Tenho aqui um camião e estou prestes a regressar a Budapeste. Escondo-te no camião e levo-te de volta."

E foi assim que ele escapou.

O Bahá'í polaco, juntamente com os outros membros do batalhão de trabalhos forçados, foi levado para Auschwitz onde todos pereceram. (Rebirth, p. 160)

Nazis efectuando estudos antropométricos na Índia
As atrocidades nazis convenceram milhões de pessoas que Deus estava morto. Se existia um Deus amoroso existiu, pensavam, como poderia ter acontecido tanta morte e sofrimento sem precedentes, especialmente às mãos de pessoas supostamente civilizadas?

Os ensinamentos Bahá’ís abordam directamente esta questão fundamental. Os Bahá’ís acreditam que um Criador bondoso e amoroso abomina o sofrimento humano; mas Ele deu-nos livre arbítrio para que possamos traçar os nossos próprios destinos. Os Bahá’ís acreditam que a humanidade tem a responsabilidade de pôr um fim trazer a um mal endémico. Os Bahá’ís também acreditam que os seres humanos estão num momento do espiritual e físico - e que, se nos concentramos na nossa vida interior e na nossa realidade espiritual, elevaremos aquilo que os seres humanos podem ser e fazer; mas se ignorarmos as nossas almas e permitirmos que o ódio governe os nossos corações e mentes, iremos afundar-nos nas profundezas da depravação, a um nível inferior ao mais cruel dos animais:
No homem há duas naturezas; a sua natureza espiritual ou superior e a sua natureza material ou inferior. Numa ele aproxima-se de Deus e na outra ele vive apenas para o mundo. Sinais de ambas as naturezas encontram-se nos homens. No seu aspecto material, ele expressa falsidade, crueldade e injustiça; tudo isto é resultado da sua natureza inferior. Os atributos da sua natureza divina surgem no amor, na misericórdia, na bondade, na verdade e na justiça; todas são expressões da sua natureza superior. Cada bom hábito, cada qualidade nobre pertence à natureza espiritual do homem, enquanto todas as imperfeições e acções pecaminosas nascem da sua natureza material. (‘Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 60)
Os nazis foram derrotados por um enorme esforço global na Segunda Guerra Mundial, mas a sua ideologia de supremacia racial existe nas naturezas inferior de muitas pessoas. Os ensinamentos Bahá'ís apresentam um plano para a humanidade em que se apela à eliminação desses preconceitos e ódios.

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Texto original em inglês: Sub-Human

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David Langness é jornalista e critico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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