terça-feira, 4 de março de 2014

Ayatollah Mesbah Yazdi: "Direitos iguais para Bahá’ís e Judeus é contra o Islão"

Ayatollah Mesbah Yazdi
Num discurso para professores e seminaristas, o Ayatollah Mesbah Yazdi, um influente clérigo de linha-dura do regime iraniano, afirmou: "Houve quem avançasse com um plano para os direitos de cidadania e queira dar direitos iguais aos Bahá’ís, aos judeus e aos muçulmanos e ... Nós nunca poderemos aceitar isso." Esta foi uma referência inequívoca ao projecto de Carta dos Direitos de Cidadania apresentado pelo governo de Rouhani, em Novembro passado.

A raiva do sr. Yazdi incidia no princípio de que todos os cidadãos são iguais perante a lei. "Todos os cidadãos iranianos, independentemente do seu sexo, etnia, riqueza, classe social, raça, etc., desfrutam de direitos de cidadania e as garantias previstas em normas e regulamentos", declara primeiro artigo do projecto da Carta. A frase não inclui o termo "religião", provavelmente de forma intencional, mas o "etc." deixa muito espaço para especulação. Alguns radicais têm sido rápidos a especular que isto poderá abrir espaço para a Comunidade Bahá’í, que tem sido incansavelmente hostilizada desde o início da Revolução Islâmica.

"O padrão é sempre o Islão", disse Yazdi aos alunos da escola teológica. "Direitos humanos ocidentais e direitos de cidadania, significando igualdade entre os Muçulmanos e os Bahá’ís, não tem relação com o Islão. Estes direitos, conforme descritos pelo Ocidente, vão totalmente contra o Islão, a constituição e o caminho do Imam [Ayatollah Khomeini]. O povo deste país, que sofreu agruras e deu tantos mártires, não aceitaria nada que vá contra o Islão. Claro que, mesmo aqueles que não são muçulmanos devem ser respeitados. Eles têm direitos, que o Islão reconhece."

Cidadãos de segunda-classe

O Ayatollah Yazdi defendeu que a desigualdade religiosa é aceitável. "O Islão nunca considera um judeu e um muçulmano como iguais", declarou. "Apesar do Islão ter conferido alguns direitos aos judeus, isso não significa que eles sejam iguais em todos os direitos. Por vezes isso é designado «cidadania de segunda classe». Podem chamar-lhe o que quiserem, mas isso não muda a realidade."


Activistas de direitos humanos e comentadores liberais têm feito várias críticas à Carta dos Direitos, classificando-a como "elegante, mas inútil" e uma "miscelânea de coisas"; mas o sr. Yazdi vê a carta como um texto anti-Islâmico, tanto na letra, como no espírito.

Uma fantasia marginal

O espírito, é claro, vem das pessoas que redigiram o projecto sob as ordens de Rouhani. Dirigindo-se aos estudantes, o sr. Yazdi afirmou que aqueles que promovem os direitos de cidadania estão errados sobre o Islão e errados sobre a história da República Islâmica. E acrescentou que quando os defensores dos direitos de cidadania citam o respeito do Ayatollah Khomeini pelas práticas democráticas, como o direito a votar, eles estão a distorcer as suas palavras. Eles acreditam que Khomeini "foi uma figura política e um herói nacional que se opôs ao antigo regime - que prejudicava o país - e queria estabelecer um sistema que seria mais vantajoso para o povo." Mas, segundo o sr. Yazdi, isso é simplesmente falso. "As pessoas que pensam assim são seculares e, na sua opinião, o bem e o mal consistem em coisas materiais", declarou, acrescentando que, para essas pessoas "o mal é o atraso material e a ausência de bem-estar; simultaneamente, o bem está na utilização de tecnologia e em proporcionar uma vida boa para todos. Eles acreditam que a religião é algo marginal, uma fantasia."

O Islão era absolutamente central no pensamento de Khomeini, afirmou o sr. Yazdi. "Quando ele disse que a sociedade enfrentava um grande perigo, ele queria dizer um grande perigo para o Islão. Isso era algo que não era importante para muitos políticos."

Um estudante perguntou: "As pessoas que querem igualdade de direitos para todos os cidadãos são inimigas do Islão? ". "Eles não são realmente inimigos do Islão", foi a resposta, "mas esta é a forma como eles veem o mundo, especialmente se a pessoa foi educada em Inglaterra ou noutro lugar assim, porque nesses lugares eles falam dos direitos humanos, dos direitos de cidadania e outros direitos com tal reverência que, gradualmente, o aluno chega a considerá-los como a questão mais importante." O sr. Yazdi acrescentou que, apesar de ter 80 anos, ainda poderia cair sob a influência da retórica ocidental, se viajasse para um desses países. Então seria lógico supor que um "jovem que não tenha compreensão profunda dos princípios islâmicos" possa ser particularmente vulnerável à influência.

Este não é o primeiro ataque à proposta de Carta de Direitos Humanos do presidente Rouhani. Mas é o ataque mais significativo. E é de esperar que surjam mais ataques.

Para concluir, convém lembrar que entre o clero iraniano há quem tenha opiniões totalmente diferentes do sr. Yazdi

--------------------------------------------------------------
Traduzido e adaptado de: Ayatollah Mesbah Yazdi: "Equal Rights for the Baha'is and the Jews are Against Islam" (IranWire)

Sem comentários: