quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Jesus Cristo: Fé, Obras e Transformação

Por Maya Bohnhoff


Todos os profetas de Deus trouxeram a mensagem do amor. Nenhum ensinou que a guerra e o ódio são bons. Todos concordam em dizer que o amor e a bondade são o melhor. O amor manifesta a sua realidade em obras, não apenas em palavras - estas só por si não têm efeito. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 35)
Os leitores podem já ter ouvido muitas vezes a frase "a fé sem obras está morta" (Tiago 2:26). Ouvi-a frequentemente no púlpito quando era criança e muitas vezes me questionei sobre o que significava - especialmente no contexto da afirmação comum de que nenhuma acção (trabalho) que nós como cristãos pudéssemos fazer contribuiria para a nossa salvação espiritual. Como dizia uma amiga cristã: "Tudo o que temos a fazer é ouvir e estar em sintonia com Ele através da Sua Palavra".

Escutar é, obviamente, um bom começo. Um sábio judeu referiu uma vez que quando oramos estamos a falar com Deus e quando lemos a Sua Palavra estamos a escutar a Sua resposta. O Verbo de Deus (a palavra proferida e o Verbo que se fez carne) é fundamental para a nossa educação espiritual e para a nossa transformação de criaturas de barro em seres de luz.

O Mr. Spock dizia que a lógica era o princípio da sabedoria, e não o fim. Penso que a mesma coisa acontece com a fé; a fé é o começo da salvação e não o fim. De acordo com as escrituras (e aqui incluo os ensinamentos de todas as Vozes Proféticas nessa categoria), devemos fazer mais do que escutar; o que ouvimos deve impelir-nos a agir. O apóstolo Tiago escreve que "a fé sem obras está morta", e não que a fé sem obras esteja quase morta ou que esteja um pouco doente, mas mesmo assim seja aceitável para Deus. Ele diz que está morta - falecida, acabada e já não está viva.

Cristo diz aos Seus discípulos a mesma coisa no Jardim do Getsémani, quando, no capítulo 15 de João, Ele diz que devem permanecer no Seu Amor, e que para fazer isso, eles devem obedecer ao Seu mandamento "Amai-vos uns aos outros."

E também acrescenta o que acontecerá se não obedecem a esse mandamento:
Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. (João 15:6).
Isto soa como uma declaração espiritual muito clara do tipo "Se… então…": se você não fizer o que é preciso para permanecer em Cristo, então você não permanece em Cristo. Torna-se um ramo seco, morto, sem vida espiritual

Voluntários da Habitats for Hummanity
A minha amiga argumentou que "as bênçãos de Deus não dependem das nossas obras, mas do Seu amor. Não fizemos nada para o merecer, por isso não podemos fazer nada para o desmerecer."

Também fui criada a acreditar nisto, mas as palavras de Jesus simplesmente não sustentavam esta crença.

Em João 15:10, Jesus diz: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor". A metáfora que Ele usa para ilustrar o que acontece aos que não obedecem - que não agem de acordo com a fé que professam - é extremamente clara: um ramo de videira quando é cortado morre e é lançado ao fogo.

Muitas das Suas metáforas ilustram como a nossa crença e comportamento afectam a nossa ligação com Deus (leia a Parábola das Virgens Insensatas e Prudentes para ter uma visão arrepiante). Em nenhum contexto Cristo associa a nossa salvação à crença numa doutrina ou milagre em particular. Ele associa a salvação ao quão bem nós obedecemos e amamos - ao quão bem nós "guardamos" a Sua palavra.

Esta leitura das palavras de Cristo respondeu a uma pergunta que eu me questionava há anos: O que é que Cristo quis dizer quando Ele diz em João 12:48: "Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia"? Como é que a palavra de Cristo nos pode julgar?

No contexto, parece-me que somos julgados pelo quão bem escutamos e agimos de acordo com o que ouvimos. Tal como Cristo diz: "Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá." (João 8:51)

Portanto, não podemos "guardar" a palavra de Cristo apenas tendo fé nele; devemos dar frutos - devemos agir. 'Abdu'l-Bahá, falando durante as Suas viagens ao Ocidente, disse: "A realização de qualquer objectivo está condicionada por conhecimento, vontade e acção. Se estas três condições não estiverem presentes, não há execução ou realização". Por outras palavras, a fé sem obras está morta.

Então, como é que os Cristãos passaram a acreditar que nossas atitudes e acções nunca poderiam levar-nos a "desmerecer" a salvação, que nunca deixaríamos de manter a nossa ligação ao Criador, colocando outras coisas à frente da obediência à Sua palavra? Foi uma ilusão da nossa parte acreditar que a salvação era tão fácil, que nada podíamos fazer para a afectar?

Ironicamente, mesmo nessa doutrina, um ser humano deve fazer algo para "merecer" habitar no amor de Cristo e receber a graça de Deus: ele deve acreditar que a graça é possível.  

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Texto Original: Jesus Christ: Faith Works and transformation (BahaiTeachings.org)
Texto Anterior: Jesus Cristo: o Significado do Sacrifício
NOTA: Todas as citações biblicas são retiradas da tradução dos Capuchinhos.

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

2 comentários:

dina disse...

gostei

Marco Oliveira disse...

Como disse Baha'u'llah: "A essência da fé está na escassez de palavras e na abundância de acções"