sábado, 11 de janeiro de 2014

Integrar Ciência e Religião: as opiniões de duas Bahá'ís

Tradução do artigo How Two Baha'i Women Integrate Science and Religion, de Geoffrey A. Mitelman, publicado no HuffingtonPost
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Poucos americanos sabem o que é a Fé Bahá’í. No entanto, um dos seus princípios fundamentais é um compromisso com a investigação científica, o que significa que os Bahá'ís têm uma perspectiva única sobre a forma como a ciência e a religião podem interagir.

Assim, como parte da série "Sinai and Synapses: More Light, Less Heat", a Drª Lisa M. Ortuno e a Profª. Carey Murphy partilham a forma como a sua Fé Bahá’í tem reforçado o seu amor pela ciência, e como a ciência tem reforçado o seu compromisso com a sua fé.

Lisa M. Ortuno tem um doutoramento em biologia e actualmente trabalha para a Promega Corporation, uma empresa de biotecnologia. Pertence ao grupo de trabalho Sinai and Synapses, e concluiu que o uso do método científico e a sua formação em biologia foram essenciais na sua jornada para se tornar Bahá’í.

Carey Murphy é uma professora reformada que deu aulas de ciências ao 8º ano numa comunidade predominantemente fundamentalista, na Carolina do Sul. Uma vez que a Fé Bahá’í enfatiza a racionalidade, ela usou o seu compromisso religioso para ajudar os seus alunos aceitar o pensamento crítico.


Lisa M. Ortuno, Ph.D.



Olá, o meu nome é Lisa Ortuno, e sou bióloga e Bahá'í .

Gostaria de falar sobre a forma como a Fé Bahá’í influenciou o meu pensamento como bióloga, e como o método científico que eu empregava me levou a pensar como Bahá'í.

A minha fé diz que os mistérios ocultos da natureza podem ser transferidos do plano do invisível para o visível. E é assim que envolvimento na ciência é visto na Fé Bahá’í. Na verdade, é um acto sagrado. É divino.

É esta nova maneira de ver as coisas foi muito apelativa para mim. E isso é especialmente verdade considerando que, durante os anos de liceu e de faculdade, eu era agnóstica. Nunca fui capaz de assimilar a fé a que estive exposta quando crescia, e, portanto, achei que a ciência era a maneira de descobrir as verdades sobre o mundo.

Ainda acredito nisso, é claro. Mas agora acredito que é uma das, pelo menos, duas maneiras de alcançar a verdade e a sabedoria sobre o mundo.

Enquanto continuei na faculdade, aprendi a formular novas questões, ou a procurar questões originais, a desenvolver novas hipóteses, a testá-las e a aplicar o método científico nas minhas descobertas. E foi através do acto de escrever publicações e apresentar a informação à comunidade científica que fui capaz de levar esse conhecimento, mais uma vez, do plano invisível para o visível.

Sempre fui uma daquelas pessoas interessadas em ciência e até mesmo quando era criança, viam-me nos rios a levantar pedras, a recolher  sapos e tartarugas e a levá-los para casa para os guardar em frascos de vidro no meu quarto...

Assim, pensando no meu desenvolvimento como Bahá’í, quando fiquei exposta à Fé, como pode imaginar, fiquei um pouco céptica; e porque tinha formação em biologia, o que eu fiz foi aplicar o método científico às pretensões da Fé. E fiz isso durante três anos.

E o que descobri, como resultado disso, foi que as minhas relações melhoraram, e em algumas delas eu estavam em conflito. E por isso, obtive um resultado verdadeiro, real e científico, de muitas maneiras. E continuei a testá-la. E percebi que, para mim, que este era o caminho que queria seguir.

Ao mesmo tempo, enquanto continuava a aprender a ser uma pessoa de fé, descobri que havia outra transformação que estava a ocorrer, e que foi um crescente sentimento de humildade. É muito fácil tornarmo-nos excessivamente confiantes na capacidade da ciência para resolver os problemas do mundo. E olhando à nossa volta, é claro que todos nós vemos que enfrentamos problemas enormes, e agora seguindo a ideia de que com a ciência e a religião juntas podemos encontrar fontes de conhecimento, e tendo essa informação e aplicando-a globalmente, com o coração cheio de humildade, foi a maneira como eu aprendi a viver a minha vida .

Claro, todas as grandes religiões do mundo defendem esta postura de que precisamos ter essa humildade. Portanto, estou plenamente confiante como pessoa de fé e pessoa da ciência com esta postura humilde na capacidade que, juntas, estas duas podem-nos ajudar a lidar com os grandes problemas que temos diante de nós.

Juntas, a ciência e a religião são as asas de um pássaro, e juntas farão avançar a civilização humana.

Carey Murphy:



Chamo-me Carey Murphy e sou Bahá’í; sou professora reformada de ciências do ensino secundário do 8º ano. Quero falar sobre a forma como a minha religião influenciou a minha sala de aula.

A Fé Bahá’í ensina que a ciência deve aprovar a religião e a religião fortalece ciência. Enfatiza que a ciência e a religião vêm ambas de Deus; não estão em concorrência entre si, e não estão em conflito.

Foi com esse espírito que leccionei durante 25 anos numa cultura cristã diversificada, mas fortemente evangélica aqui na Carolina do Sul. Muitos dos meus alunos acreditavam que os ensinamentos fundamentalistas e literalistas superavam todos os outros tipos de conhecimento, incluindo o que eu lhes estava a transmitir, e que incluía geologia, paleontologia, um pouco de física, evolução e astronomia.

No início da minha carreira de professora decidi ajudar os meus alunos a pensar de forma mais crítica, ensinando-lhes os passos de racionalidade. Passos que são seculares e se encontram de forma clara nas escrituras Bahá’ís.

Estes passos incluem a necessidade de dominar um corpo de conhecimentos; possuir um espírito de investigação e desprendimento; acreditar na volatilidade do conhecimento; possuir um espírito grato e humilde de serviço; testar e re-testar ideias; participar em consulta e peer-reviews; não fazer juízos antes de conhecer; evitar o pensamento dicotómico; e, por último, dissipar o medo da autoridade, da crítica e do fracasso.

Percebi que os meus alunos compreendiam muito bem estas ideias e métodos, e criaram um verdadeiro respeito pela ciência ao longo do processo. Esta experiência ensinou-me que o pensamento racional poderia ser transmitido a jovens e adultos, e que deve ser incluído nos nossos currículos académico e religioso.

Na perspectiva Bahá’í, aplica-se a ambos. Ciência e religião devem ser compreendidas racionalmente.

Os jovens, em resumo, assim como os adultos, merecem ter as ferramentas racionais com que as quais podem analisar as ideias que encontram nas suas vidas.

Quero terminar com uma citação das escrituras Bahá’ís :
Deus dotou o homem com inteligência e razão. Se as crenças e opiniões religiosas se encontram em contradição com os padrões da ciência, estas são meras superstições e imaginações; pois a antítese do conhecimento é a ignorância, e a filha da ignorância é a superstição. Inquestionavelmente deve haver conformidade entre a verdadeira religião e a ciência. Se se descobre uma questão contrária à razão, a fé e a crença nesta são impossíveis, e não há nenhum resultado, salvo hesitação e vacilação . ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 177)
Muito obrigada pela atenção.

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Texto original em inglês: How Two Baha'i Women Integrate Science and Religion (Huffington Post)

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