domingo, 5 de fevereiro de 2012

Religiões mostram ser possível viver em harmonia

Texto de Nuno Abreu, publicado no jornal A Bola.

Um grupo de escuteiros irrompeu para o palco para cantar uma canção e muitos ficaram surpresos. Notou-se que a maioria das pessoas não pensava existir escuteiros de outros credos, mas no agrupamento 36 existem e são muçulmanos ismailitas. Não podia haver melhor metáfora para o encontro que ocorreu este sábado de manhã, no Mercado de Santa Clara em Lisboa, promovido pela Aliança das Civilizações. Entre 1 e 7 de fevereiro comemora-se a Semana Mundial de Harmonia entre Fés.

Fotos de António Azevedo/ ASF


Mais de 13 credos juntaram-se para partilharem a sua visão de convivência entre religiões. Desde a fé bahá’i, passando pelas comunidades hindus, sikh, muçulmana, muçulmana ismailita, judaica, cristã e até ateia partilharam os seus testemunhos, todos com semelhante objetivo de tolerância e de união, mesmo que caminhando por «estradas diferentes».

Jorge Sampaio, antigo Presidente da República e atual Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, destacou o papel de Portugal como país que vive na multiculturalidade. «Numa semana de eventos violentos temos de nos lembrar que esta é também uma semana de harmonia. Uma semana para aprender a respeitar a diferença, sendo que todos partilhamos a nossa Humanidade. Portugal é um país onde há séculos existe uma aliança entre credos, com os mais diversos templos espalhados por todo o país», disse.

União das fés

Uma plateia multicultural, à imagem da celebração que decorria, ouviu atenta as palavras dos mais diversos representantes dos credos presentes em Portugal que, como objetivo da celebração, iam encontrando «harmonia» entre si, apesar de professarem credos diferentes. Como Marco Oliveira, da comunidade bahá’i, que destacou a iniciativa como forma de «refletir os diversos caminhos da verdade que permitem a construção da paz», opinião que Shree Trivedi, da comunidade hindu portuguesa, veio corroborar ao citar Gandhi, afirmando que «cada religião é um caminho diferente para atingir o mesmo ponto».

A comunidade hindu é um exemplo de integração que começou ainda fora de Portugal. «Moçambique foi o primeiro país a dar exemplo de convivência com os hindus e essa convivência amena foi trazida para a Europa, onde ainda se mantém», disse Trivedi.

Abdool Karim Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, ilustrou a convivência inter-religiosa dando o exemplo da Península Ibérica, quando três religiões (cristã, judaica e islâmica) trabalharam lado a lado no Al-Andaluz, numa época de grande evolução. O líder islâmico apelou também a que «seja incutido nas crianças a solidariedade e compaixão entre povos».

Os representantes da comunidade islâmica ismaili, da comunidade israelita, da comunidade de Santo Egídio, dos Sikh, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, da Igreja Lusitana da Comunhão Anglicana, Sagrado Coração de Maria e do Templo de Shiva foram cada um falando sobre união entre credos, partilhando votos de paz mundial.

Para o fim ficou o pequeno-almoço de sabores do mundo, onde em cima da mesa, e como foi pedido pelos oradores, se reuniram em harmonia iguarias de todo o Mundo, desde África à Turquia, passado pela Croácia, Marrocos ou Sudeste Asiático.

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