sábado, 1 de janeiro de 2005

Shoghi Effendi

Em 1921, após o falecimento de 'Abdu'l-Bahá, e de acordo com a Sua Última Vontade e Testamento, a autoridade no seio da comunidade Bahá’í foi transferida para a Guardiania e para a Casa Universal de Justiça. Para o cargo de Guardião, 'Abdu'l-Bahá nomeou o Seu neto mais velho, Shoghi Effendi; a Casa Universal de Justiça seria uma instituição eleita regularmente, e liderada pelo Guardião.[1]

Quando foi nomeado Guardião, Shoghi Effendi tinha pouco mais de 20 anos e estudava no Balliol College em Oxford. A dor sentida com o falecimento do Avô – por quem tinha uma enorme adoração – e o peso da responsabilidade que lhe era atribuída deixavam-no estarrecido; nunca tivera qualquer percepção que poderia assumir um cargo de tamanha importância.[2]


'Abdu'l-Bahá com o Seu neto, Shoghi Effendi,
pouco antes deste partir para estudar Inglaterra

Ao assumir plenamente as suas funções de Guardião, e no cumprimento das instruções da Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, a primeira preocupação de Shoghi Effendi foi proceder à eleição da Casa Universal de Justiça. Uma análise cuidadosa da situação da comunidade bahá’í e das escrituras, levaram-no a perceber que essa eleição deveria ser precedida por uma maior expansão e consolidação da comunidade bahá’í.

O crescimento e a consolidação das comunidades bahá’ís a nível local, nacional e internacional tornaram-se a sua maior preocupação. Além de elaborar e coordenar vários planos sistemáticos de expansão da comunidade (indicando territórios e localidades onde os bahá’ís se deviam fixar) esclareceu os crentes sobre as condições que deviam existir para a eleição de Assembleias locais e nacionais. Em 1953 apresentou um plano de expansão da comunidade Bahá’í que deveria culminar com a primeira eleição em 1963 da Casa Universal de Justiça.

Em 1921, eram poucos os textos de Bahá'u'lláh traduzidos para inglês. Shoghi Effendi traduziu para inglês vários livros e epístolas das escrituras bahá'ís (que no original se encontram em Árabe e em Persa). Estas traduções para inglês são hoje consideradas como "traduções oficiais" e servem de base para a tradução das escrituras para outras línguas. Além das escrituras, Shoghi Effendi também traduziu a crónica de Nabil-i-'Azam, com o objectivo de permitir que os bahá'ís do ocidente conhecessem e se inspirassem nos seus irmãos espirituais do oriente, e lessem relatos de pessoas que tinham tido o privilégio de estar pessoalmente na presença do Báb e de Bahá'u'lláh.

Shoghi Effendi escreveu milhares de cartas a crentes e comunidades, esclarecendo questões, estimulando actividades e apelando a tarefas que levariam ao crescimento da comunidade bahá’í. Algumas dessas cartas foram compiladas e publicadas em livros. Dentre os seus escritos pessoais destaca-se o livro “A Presença de Deus”, onde descreve a história do primeiro século de existência da comunidade bahá’í.

Shoghi Effendi deu um tremendo impulso ao desenvolvimento do Centro Mundial Bahá'í, em Haifa. Foi sob sua supervisão que foi construído o Santuário do Báb (o pequeno edifício base tinha sido construído no tempo de 'Abdu'l-Bahá), que se alargaram e embelezaram os jardins em redor do túmulo de Bahá'u'lláh nos arredores de 'Akká, que foi construído o edifício dos Arquivos Internacionais (onde epístolas originais e objectos pessoais do Báb e de Bahá'u'lláh se encontram expostos e podem ser vistos por peregrinos bahá’ís), os restos mortais de Navab (a esposa de Bahá'u'lláh que O acompanhou em todos os exílios) e de Mirzá Mihdi (o filho de Bahá'u'lláh que falecera na prisão em 'Akká) foram transferidos para um jardim nas encostas do monte Carmelo, junto ao Santuário do Báb e ao túmulo da Mais Grandiosa Folha.


Shoghi Effendi, em 1957

O aspecto mais importante do trabalho do Guardião é o facto de ele se ter tornado o garante da unidade dos bahá’ís. Agindo consoante as instruções da Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, ele era o único intérprete das escrituras bahá’ís. Apesar de não poder alterar o que Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá tinham revelado, ele desempenhou a tarefa crucial de clarificar os aspectos das escrituras e dos ensinamentos que não estivessem plenamente compreendidos pelos crentes.

Shoghi Effendi faleceu inesperadamente em 1957. Não designou nenhum sucessor como Guardião; mas conforme planeado, a liderança da comunidade bahá’í seria assumida, em 1963 pela Casa Universal de Justiça. Durante os 36 anos em que serviu como Guardião, o pequeno movimento religioso bahá’í (cujos crentes residiam essencialmente no Irão) transformou-se numa comunidade religiosa (de carácter multi-étnico e multicultural) espalhada por praticamente todo o mundo.

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NOTAS
[1] - Esta ordem administrativa foi antecipada por Bahá'u'lláh no Kitab-i-Aqdas e descrita com maior detalhe na Ultima Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá.
[2] - Durante alguns meses esteve retirado; nesse tempo a liderança da comunidade esteve entregue à sua tia-avó - Bahíyyih Khánum – irmã de 'Abdu'l-Bahá. Ela e Shoghi Effendi eram muito chegados; talvez fosse ela a pessoa da família que melhor compreendia a dor do jovem Shoghi. Não é de admirar que ela tenha sido uma apoiante leal do sobrinho e que ele sempre se tenha referido a ela em termos profundamente elogiosos.

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