quinta-feira, 8 de julho de 2004

Anís, o Companheiro dos últimos dias

Em 1850, o Xá da Pérsia nomeou um novo Grão-Vizir (cargo semelhante a primeiro-ministro). Tão cruel quanto o seu antecessor, pretendia esmagar rapidamente a comunidade Bábi; para mostrar a sua determinação, ordenou a execução do Báb que se encontrava detido em Chiriq (fortaleza no Azerbaijão persa). A ordem de execução foi enviada ao Governador da província e devia ser cumprida na capital provincial: Tabriz.

A população da cidade soube da ordem de execução e houve grande agitação; as ruas encheram-se de gente que tentava ver o Báb a ser levado para a fortaleza, antes da execução. Quando os soldados conduziam o Báb e o Seu secretário, Siyyid Husayn, para a fortaleza, um jovem abriu caminho através da multidão e atirou-se aos pés do Báb dizendo:

"Não me afastes de Ti, ó Mestre. Onde quer que Tu vás, permite que eu Te siga."

"Levanta-te", respondeu o Báb, "e tem confiança que estarás Comigo. Amanhã testemunharás o que Deus decretou."(1)

Fortaleza de Tabriz, o local onde o Báb passou os Seus últimos dias
O jovem foi imediatamente preso, junto com outros dois companheiros, na mesma cela em que estavam confinados o Báb e o Seu secretário. Este jovem ficou conhecido como Anís (em português, "companheiro").

Anís era um dedicado seguidor da mensagem do Báb. Vivia em Tabriz e há muito tempo que desejava conhecer pessoalmente o Báb. Tinha pensado ir até à fortaleza de Chiriq, mas o seu pai proibira-o e trancara-o em casa (apesar de Anís ser adulto, casado e ter um filho!) Anís já tinha ficado fechado em casa durante uma anterior visita do Báb a Tabriz. Mas estas atitudes do pai não esmoreciam a sua fé.

Em conversas com outros Bábis que tinham visitado o Báb nas prisões de Mah-Ku e Chiriq, partilhou com eles uma experiência muito pessoal. Dizia que tinha passado muitas semanas orando e implorando a Deus que lhe permitisse chegar à presença do Prometido; um dia, quando estava imerso em oração, teve uma visão extraordinária. Ele viu o Báb à sua frente chamando-o. Anís atirou-se aos Seus pés. "Regozija-te," disse-lhe o Báb, "aproxima-se a hora em que, nesta mesma cidade, serei suspenso diante dos olhos da multidão, e cairei vítima ao fogo do inimigo. A ninguém escolherei senão a ti para partilhar Comigo da taça do martírio. Tem a certeza que esta promessa que te faço será cumprida."(2) E assim, Anís começou a esperar pacientemente, sabendo que chegaria o dia em que estaria na presença do Báb. Agora, esse dia tinha chegado.

Na noite de 8 para 9 de Julho, o Báb falou aos Seus companheiros de cárcere. Cheio de alegria, disse-lhes: "Amanhã será o dia do Meu martírio. Oxalá pudesse um de vós levantar-se agora, e, com as próprias mãos, pôr fim à Minha vida. Preferia ser chacinado pela mão de um amigo, do que pela mão do inimigo." Todos ficaram consternados; as lágrimas corriam pelas suas faces; ninguém se atrevia a por fim à vida do Báb.

Subitamente, Anis levantou-se deu alguns passos em direcção ao Báb e disse que estava pronto a obedecer a qualquer coisa que Ele ordenasse. Os outros dois companheiros ficaram horrorizados e agarraram-no. Quando as coisas acalmaram, o Báb afirmou: "Esse mesmo jovem que se levantou para aceder à Minha vontade, sofrerá o martírio comigo. Será ele quem Eu escolherei para partilhar essa coroa."(3)

O Báb passou o resto da noite ditando cartas e epístolas para o Seu secretário. O dia seguinte seria o dia do Seu martírio; o Báb escolhera um discípulo para O acompanhar nesse momento.
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NOTAS
(1) Os Rompedores da Alvorada, volume II, p. 251
(2) Os Rompedores da Alvorada, volume II, p. 58
(3) Os Rompedores da Alvorada, volume II, p. 251